De Anónimo a 16.04.2015 às 11:38
Não quero que leve a mal o que digo. Não digo com a intenção de ferir, mas este tipo de conversa, (e respetivos argumentos), incomoda-me.
Compreendo a frustração de quem não consegue ter emprego. De quem estudou, batalhou, e agora não consegue. No entanto, as pessoas têm de entender que o Estado não é pai de ninguém, nem deve nada a ninguém.
O que aqui vou dizer, aplica-se aos enfermeiros, aos professores, e demais pessoas que pretendem exercer uma atividade do domínio público.
As pessoas tendem a ver o Estado como uma entidade abstrata, quando, em termos económicos financeiros, o Estado é suportado por todos nós. O Estado não é uma entidade com fundos ilimitados, facultados por alguém altruísta. Não! O Estado é financiado por nós, e foi precisamente por, em tempos ter admitido um exacerbado número de funcionários, cujo regime laboral, goza de uma especial tutela face aos trabalhadores do setor privado, que a estrutura económica do Estado foi desabando.
Acredito que necessitem de mais que 20 enfermeiros. Como as escolas das regiões interiores, necessitam de mais professores, mas o Estado NÃO PODE suportar essa despesa.
O que eu quero dizer, é que a realidade é o que é. E a culpa não é deste, daquele, ou dacoloutro. O número de licenciados em Portugal é exagerado, (consequência da facilidade com que se tira um curso, e do ensino superior privado, mas isso já outro tema), em todos os cursos. Não é só o seu. E o estado está em falência, logo, não há possibilidade de contratar todos estes profissionais?
Procure saber quantas faculdades de enfermagem existem. Quantos enfermeiros se licenciam anualmente, e entenderá melhor esta realidade.
Por fim, ao Estado não compete a contratação de qualquer profissional. Sem a querer magoar, mas o Estado não lhe deve nada. Entendo o que diz, que são necessários enfermeiros. Mas são necessários enfermeiros que o estado não pode contratar. Todo o sistema público funciona mal. Todo ele. Não é só a saúde. É a saúde, a educação, o emprego, a segurança social. ora, isto não vai mudar, só porque mais pessoas se licenciaram, e mais pessoas estão no desemprego. As pessoas costumam dizer que têm direito ao trabalho. Não concordo, porque não existem direitos sem deveres, e para haver direito a trabalho, teria de ser imposto a alguém o dever de contratar, o que, por razões óbvias, não pode proceder.
Está na altura de as pessoas crescerem, e entenderem que não é por terem um curso, que os estados lhe deve contratação.
Quem tira um curso, está ciente do que faz. está ciente da taxa de empregabilidade dessa área; da sua estrutura sócio económica; do número anual de licenciados; das condicionantes subjacentes; do número de faculdades que formam essas pessoas (universidades públicas, universidades privadas, e institutos politécnicos). E se não está, deveria, porque esses números são públicos.
agora o que se não pode fazer, porque é denota uma grande falta de imaturidade, é achar que porque tiro um curso, o estado tem de contratar. Então, o que diriam os licenciados, daquelas áreas cujas saídas profissionais, se situam no domínio do setor privado, ou constituem profissões liberais?
Há um elevado número de jovens desempregados. Não são só os enfermeiros, são também pessoas que, como mencionem acima, não se licenciaram numa área que possa ser acolhida pelo emprego público. estes nem sequer têm o abono do Estado...
E não, não falo de "barriga cheia". Simplesmente acho que muita gente se queixa, em vez de fazer alguma coisa quanto à situação em que está. Mete na cabeça que é licenciado, e que por isso tem de exercer nessa área, mais! O estado tem de os contratar, e caso não o faça, pelo menos tem de pagar uns quantos subsídios, porque o Estado deve tudo às pessoas.
Faça alguma coisa quanto à sua situação. Se acha que houve o factor "c" a influenciar este concurso, insurga-se, faça qualquer coisa. TODOS os procedimentos são públicos, TODOS. e TODOS os cidadãos podem consultá-los. Procura ajuda de um jurista de direito administrativo, que ele lhe dirá como reagir nesta situação. Se acha que as coisas estão mal, INSURGA-SE, não se acomode, procure fazer alguma coisa, para as coisas mudarem. É por isso que o Estado está neste estado, porque as pessoas limitam-se a queixar, esperando que a mudança caia do céu.
De O que se ama a 16.04.2015 às 14:53
Obviamente que não levo e mal e é mesmo para discutir este tipo de situações, que escrevo e desabafo. É para ouvir outras opiniões. Concordo plenamente com o que disse e, apesar de eu ter falado especificamente no concurso de enfermeiros, claramente que tudo o que foi escrito se aplica às demais profissões. É certo que o Estado não nos deve nada..ou melhor, deve o respeito ao cidadão, no mínimo. Contudo, aquilo que quis transmitir, foi a falta de dignidade ou talvez respeito para connosco, que tivemos de nos deslocar a km de distância, basicamente, para nada. Se calhar, os critérios deveriam ter sido mais "esmiuçados" por forma a ficarem com um número mais reduzido de pessoas, não criando falsas expetativas às restantes. Sei perfeitamente que o Estado não pode suportar uma despesa maior, tenho perfeita noção disso e também isso foi referido ontem naquele auditório. Mas se calhar os Srs. governadores também não deveriam ter vindo para a comunicação social dizer que iriam contratar centenas de enfermeiros durante este ano, quando na realidade isso não é possível e não vai acontecer.
É certo que existem milhares de enfermeiros desempregados no nosso país, e sim, muito em culpa das instituições que os formam, pois valores mais altos se levantam ( € ) . Enquanto eu fui aluna, essa questão foi muitas vezes discutida com os professores, pois não faz sentido algum que continuem a existir turmas de 2º semestre em Enfermagem. Mas isto aplica-se não só à enfermagem, como a tantas outras profissões. No que me diz respeito, eu nasci para ser enfermeira. Tinha conhecimento dos números, mas era isto que eu queria e não eram os números que me iriam fazer mudar. Aquilo que faço, faço-o com paixão. Apesar disso, não tenho qualquer tipo de problema em trabalhar noutra coisa, mas a paixão não vai estar lá. Se eu tivesse possibilidades financeiras, acredite que já teria posto mãos à obra, mas infelizmente não posso. Se os serviços públicos não admitem pessoal, os privados também não. Imagina a quantidade de currículos enviados para instituições privadas que nem sequer se dignam a responder? Hoje em dia, o que se passa no público passa-se no privado e isso está claro como a água.